Continuando na saga “Oscariana”, deparo-me agora com “A Zona de Interesse”, um candidato a Melhor Filme, Melhor Filme Internacional, Melhor Realizador, Melhor Argumento Adaptado e Melhor Som. Realizado por Jonathan Glazer, conta com Christian Friedel e Sandra Hüller. A premissa deste filme é bastante simples. O comandante de Auschwitz Rudolf Höss e a mulher Hedwig esforçam-se por construir uma vida de sonho para a família na sua casa com um jardim.
A casa está construída ao lado do campo de concentração de Auschwitz onde reina a tirania. Aqui temos logo um paralelo entre uma vida sossegada e simples, onde se festejam aniversários, se vai à piscina, se conversa tranquilamente no jardim, ignorando os sons que vêm do outro lado e depois temos toda a crueldade do campo de concentração e o extermínio de milhares de pessoas. No lado da casa com jardim, vive-se bem e despreocupadamente. No lado do campo de concentração, a vida é mais dura. Nos grandes planos, a câmara foca as duas realidades bem próximas, fazendo um contraste entre a beleza da casa e do jardim, e a frieza do campo de concentração. É arrepiante ver no mesmo plano duas realidades tão opostas.
O filme é fortíssimo, não caindo no cliché de mostrar o lado da guerra, como vemos em quase todos os filmes de guerra. Aqui, ao invés, o filme foca-se na vida familiar, na casa com jardim e todos os sons vindos do outro lado do muro que separa as duas realidades, que parecem não afectar quem vive na casa, fazendo com que seja mais um dia normal. A maneira banal como o tema do Holocausto é tratado é arrepiante e o espectador, embora veja uma família feliz, não consegue deixar de pensar na miséria que habita no campo ao lado. Destaco a performance de Christian Friedel como homem da família, pai dedicado e bom marido, contrastando com o seu lado tirano de comandante de Auschwitz. Sandra Hüller também está muito bem como Hedwig.
Na minha opinião, o filme foca-se muito mais no que sentimos perante o sofrimento dos outros, apesar de não vermos imagens dos judeus no campo de Auschwitz, conseguimos sentir a dor através do som, que tem aqui um papel determinante para nos causar arrepios. Não precisamos de ver o caos a acontecer perante os nossos olhos. A forma mais poderosa é ouvir e sentir.
E isso basta para nos afligir.
Estrelas: 10 em 10
Este autor não escreve segundo o novo acordo ortográfico.