EM TELA: “Democracia em Vertigem” e o que dela podemos aprender para Portugal

Fugindo aos Óscares 2024, mas mantendo à atualidade no “Em Tela”, regressamos a 2020, com a nomeação do documentário “Democracia em Vertigem”. Nomeado, à data, para melhor documentário, o mesmo não perde a sua contemporaneidade. O filme trouxe para o grande ecrã um profundo debate sobre as amarras e as vicissitudes da jovem democracia brasileira. A sua visualização e respetivo debate tornam-se hoje, mais importantes do que nunca, particularmente no cenário português. Isto, porque cinema também é política!

A Democracia cumpre as suas finalidades quando a mesma funciona dentro dos trilhos e das regras do jogo definidas pelo politólogo Norberto Bobbio. Esta obra cinematográfica vem levantar o véu de como as mesmas foram contornadas no Brasil durante o julgamento do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, em 2016, polarizando todo um pais entre o ‘nós’ e o ‘eles’.

A narrativa vai oscilando entre memórias e perceções individuais da autora – em estilo fotográfico – e o desenvolvimento do paradigma político do país com a ascensão e a proliferação da extrema direita no seio da democracia brasileira, representada por Jair Bolsonaro. Culmina o mesmo, com a nomeação do juiz Sérgio Moro para o Ministério da Justiça e da Segurança Pública, comprometendo inegavelmente a Justiça do país num claro detrimento do princípio da separação de poderes onde assentam os pilares democráticos.

A Democracia é considerada um dado adquirido nas sociedades ocidentais. Eu, como muitos de nós, já nascemos numa e não conhecemos outra realidade. Vivemos no apogeu do Estado Social e temos, em grande parte, os nossos direitos assegurados e garantidos. Contudo, a mesma ainda hoje está dependente de determinados interesses económicos e ideológicos que a fragilizam, como tão bem o documentário exemplifica quando o ‘político’ e o ‘empresário’ se encontram nos corredores do Palácio do Planalto, em Brasília, transmitindo a ideia de que a Política, na prática, acontece nas sombras.

Concluindo, e apesar do oceano que nos separa, as democracias portuguesa e brasileira são bastante jovens e, consequentemente, débeis. Como vai sendo narrado, e bem, por Petra Costa ao longo da metragem – narradora e realizadora do documentário –  a democracia brasileira tem menos de 50 anos. A democracia portuguesa, por sinal, celebra este ano os seus 50 anos e a sua celebração não podia ser, infelizmente, mais conturbada.

No passado dia 10 de março de 2024, Portugal estava colado ao ecrã, não apenas para ver as nomeações para os Óscares 2024 – que foram nesse mesmo dia – mas também para acompanhar o rescaldo nas Eleições Legislativas antecipadas que levaram o país a votos. Tal como no Brasil, em Portugal também existe extrema direita e a mesma teve, nestas eleições, uma representatividade quatro vezes superior, quando comparada com o último mandato – nunca antes um partido, em Portugal, teve tanto crescimento de um mandato para outro. São através das plataformas digitais em linha, das redes sociais, dos memes inocentes, que esta radicalização tende a banalizar-se de forma cada vez mais rápida e eficaz.

Não tornemos o discurso do ódio normal na nossa vida política. Lutemos pela nossa democracia, antes que seja tarde demais!

O documentário está disponível na Netflix.

Estrelas: 9 em 10.

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