Se pudéssemos resumir “Beef” numa palavra, essa seria irreverência. Prometeu muito com um elenco de renome e, surpreendentemente, conseguiu dar ainda mais.
Numa era marcada pela volatilidade do consumo, as séries e os filmes seguem essa mesma tendência. Sem descurar a época dourada para o cinema que enfrentamos, com megaproduções, excelentes narrativas e efeitos especiais épicos, a tendência é a quantidade superar a qualidade. Com estreias e lançamentos quase todas as semanas é importante haver algo que se destaque. É aqui que surge “Beef”. Composta por 10 episódios, a sátira disruptiva de Lee Sung Jin traz inovação e originalidade para os stremios, sendo aclamada por muitos (desde internautas anónimos a críticos de cinema) como uma das melhores séries dos últimos anos.
“Beef” é uma viagem alucinante que nos fala de angústia, de ansiedade. Mostra-nos como todos, independentemente do status social e do respetivo enquadramento económico, vivemos essencialmente zangados e a mínima coisa serve de ‘gota d’água’. Nunca estamos, nem estaremos, suficientemente satisfeitos e estamos, em larga medida, vazios e à procura de algo. Somos seres fácil e comicamente irritáveis, e “Beef” mostra-nos isso mesmo, trazendo um peculiar humor ácido à série.
A premissa da série tinha tudo para não ser nada do outro mundo, mas foi. A mesma desenrola-se em Los Angeles – um local conhecido pelas angústias e revoltas das pessoas – e tudo começa com um quase acidente de carro entre, os que se viriam a revelar, protagonistas deste enredo. Amy Lau (protagonizada por Ali Wong) e Danny Cho (por Steven Yeun) vêm de contextos sociais bem distintos. Amy pertence a uma certa elite intelectual, integrando uma classe média alta da sociedade e Danny vive à conta de biscates e procura juntar dinheiro para os país poderem voltar para Los Angeles. Ambos frustrados e presos por pressões sociais vêm ali uma oportunidade de descarregar a sua raiva um no outro. E aqui começa um despoletar de eventos, numa tentativa de vingança infrutífera, e por vezes psicótica, de voltarem a tentar sentir algo, um propósito – que, no fundo, é o que todos procuramos.
Um outro ponto forte na série é a questão da representatividade. Este é um tema constante mas muito subtil na mesma, o que torna a abordagem bastante inovadora e interessante. Ambos os protagonistas têm ascendência asiática, explorando-se, inevitavelmente, camadas sociais e culturais destes.
Apesar de bastante desconfortável em alguns momentos, “Beef” acaba por ser, paradoxalmente, profundamente calmante e acolhedora. Vemos as nossas angústias também vertidas no ecrã mas de uma forma risível, o que ajuda sempre a relativizar.
Sem prejuízo pelo dito, é de realçar como um dos melhores pontos da série, a banda sonora que se vai adequando às diferentes fases da história.
A série encontra-se disponível na Netflix.
Estrelas: 10 em 10