Durante uma semana, até 17 de junho, jovens de vários países estão em Ponte de Lima para participar no evento “Fact-check it!”.
Este é um projeto internacional de desenvolvimento profissional, focado na literacia mediática, no combate à desinformação e na promoção do pensamento crítico entre jovens e organizações juvenis de diferentes países da Europa. Na primeira edição deste training course há participantes de Portugal, Espanha, Roménia, Bulgária, Polónia, Chipre, Itália e Macedónia do Norte.
A ideia nasceu de um grupo informal de jovens desta vila, dos 20 aos 30 anos, o 100 Ideias. “Identificámos este problema como um problema atual, aliás, a própria União Europeia define este como um grande desafio da UE para o futuro”, começou por referir o responsável pelo grupo, Miguel Ralha. “Decidimos que era relevante juntar alguns jovens para explorar esta temática, para as diferentes organizações falarem um bocadinho sobre isto e tentarem trabalhar isto e desenvolver ferramentas para trabalhar com os jovens”, continuou.
“Somos pessoas de Ponte de Lima e achamos que é relevante trazer estas atividades para Ponte de Lima por ser uma terra pequenina, mas que tem uma riqueza e uma cultura muito interessante”, sublinhou.
O evento começou na sexta-feira, com foco na criação de laços entre os diversos participantes e decorre com a realização de atividades para promover os tópicos em causa e perceber as realidades de cada país, como workshops, dinâmicas de grupo, atividades culturais e sessões de reflexão criativa.
“O projeto está a correr bem, com um grupo de jovens bastante dinâmico e motivado a explorar o tema”, declarou Miguel Ralha ao longo da semana.
Entre as atividades programadas, estão, por exemplo: “Media Literacy Quiz”; “Digital Media Analysis + Media Bias Analysis”, uma análise crítica de conteúdos digitais (imagens, vídeos, memes) e comparação de notícias/artigos sobre o mesmo tema; “Critical Analysis of Social Media”, analisar estudos de caso e publicações reais; e também uma entrevista com o jornal Polígrafo.
No final do projeto, os participantes vão receber o Youthpass, um certificado que reconhece as competências desenvolvidas pelos participantes em atividades europeias de desenvolvimento juvenil.
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Objetivos iguais, mas realidades diferentes
A primeira grande diferença que perceberam ao elaborar o plano para o projeto foi a existência de “entidades de fact-checking”, ou seja, projetos que filtrem o conteúdo que é divulgado online e façam a distinção entre aquilo que é verdade do que é mentira.
“Isto nós percebemos que, para alguns países, é impensável. Não acontece lá fora, então, é uma realidade que é interessante perceber e é muito interessante de se explorar, porque há muito a ideia de que ‘ok, somos uma União Europeia, somos países europeus, temos realidades muito semelhantes’. Não é bem assim”, afirmou Miguel Ralha. “Há realidades muito díspares, muito distintas, há contextos políticos completamente diferentes e, portanto, há toda uma envolvente da própria cultura que tem muito impacto e é muito interessante perceber”, explicou.
Além disso, Miguel Ralha referiu que também pretendem trabalhar algumas competências de literacia mediática e pensar em conjunto em soluções, por exemplo, para combater as “fake-news” e qual “o impacto real” que têm, a “psicologia da desinformação” e a sua origem. “Perceber o problema e tentar perceber o que é que jovens conseguem fazer em relação a isto, porque, essencialmente, estes são os jovens que trabalham com outros jovens, portanto, pertencem todos a organizações, a associações”, adiantou também.
“Sentimos que ainda temos muito a aprender aqui e a ideia é essa, é todos nós aprendermos”, rematou.

“Vem muito de nos consciencializarmos da realidade do problema”
Para Miguel Ralha, que tem 26 anos, “é extremamente preocupante” a temática da desinformação: “Vivemos cada vez mais nas redes sociais e abrir redes sociais para mim, hoje em dia, faz-me muita confusão porque acho que é todo um fenómeno a forma como a informação se espalha, principalmente a informação mais errada é que se espalha mais facilmente”.
“A forma como as próprias pessoas lidam com as redes sociais, no sentido em que parece que não há filtro, dizem nas redes sociais e expressam aquilo que nunca diriam pessoalmente a ninguém. Então, surge aqui todo um lado humano que é interessante de perceber e que, ao mesmo tempo, parece que é muito importante alertar, acima de tudo, que ele acontece, para as pessoas se consciencializarem sobre ele”, considerou.
“Nós somos jovens e não conseguimos ter um impacto direto que consiga mudar isto e que consiga trazer uma solução a 100% e resolver o problema. O que nós acreditamos neste momento é que vem muito de nos consciencializarmos da realidade do problema, ou seja, percebermos e explorarmos o problema em si e pensarmos de que forma é que nós conseguimos vir a trazer soluções e muita desta solução passa também por continuar a consciencializar para isto”, explicitou.
Depois desta implementação local, todos os países vão replicar eventos deste género localmente e promover atividades com este objetivo “para que isto continue a ter impacto nos países, não só apenas nesta semaninha”, e as associações “ganhem algumas ferramentas que possam continuar a implementar no futuro”. “Vamos progressivamente desconstruindo isto e tentando acrescentar aqui valor ao que será uma possível solução”, concluiu Miguel Ralha.
Foto: Ana Regina Ramos