ESTÁDIOS DE ALMA: Postal dos Correios como prenda de Natal no Dragão

Foto: Ana Regina Ramos
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Eduardo Carvalho, 28 anos, Analista de estratégia em futebol

O Estádio do Dragão é palco de um duelo natalício entre equipas do distrito do Porto!

Quase 28 mil espectadores tiveram uma prenda de Natal antecipada, patrocinada pelos CTT na Taça da Liga, com uma interessante partida de futebol!
Neste confronto de estilos entre o F. C. Porto de Sérgio Conceição, que privilegia o ataque rápido e o Rio Ave de Miguel Cardoso, em que a construção apoiada é inegociável.

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Foto: Eduardo Carvalho

Ambos os conjuntos mostraram que levam muito a sério esta competição.

Nos anfitriões, apenas quatro alterações: saída de José Sá por Iker Casillas, de Diego Reyes por Felipe, de Maxi Pereira por Jesús Corona e de Vincent Aboubakar por Tiquinho Soares. O Rio Ave apresentou a mesma equipa titular do último jogo do campeonato, exceptuando Marcelo – castigado – substituído por Nélson Monte.

O F. C. Porto entrou no jogo ávido de golos: logo à passagem do primeiro minuto, Soares falha, à “boca” da baliza, a emenda a um centro rasteiro de Moussa Marega. Foi o prenúncio de uma noite muito perdulária para a dupla

Aos seis minutos, o Rio Ave consegue – coisa rara neste primeiro tempo – fazer uso das suas habituais combinações para progredir no terreno, com Rúben Ribeiro a lançar no espaço para o passe atrasado, mas Francisco Geraldes remata por cima.

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Foto: Eduardo Carvalho

Mas os primeiros 45 minutos foram quase totalmente dominados pelos dragões, com um futebol positivamente agressivo, criando referências de pressão para condicionar o início de construção dos forasteiros. Brahimi “pegava” na batuta sempre com espaço e estava intratável no passe, quer em combinações com Alex Telles ou Héctor Herrera, quer a lançar os seus colegas mais avançados em profundidade – como já havia feito na
recepção ao Marítimo, para a Liga NOS.

Essas duas matrizes de jogo ficaram bem patentes aos 11 minutos, com a pressão alta a forçar o erro vila-condense e Brahimi a combinar com Herrera: o mexicano “penteia” de forma sublime, de calcanhar, para Tiquinho ajeitar de pé direito e “fuzilar” com a canhota.

O ponta-de-lança brasileiro parecia partir para uma noite em grande, mas, a partir daqui, começaria o desperdício para ele e Marega.

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Foto: Eduardo Carvalho

O maliano foi o primeiro, ao isolar-se para receber um grande passe de Herrera, mas à saída do guarda-redes remata torto, para fora. Seguiu-se, pouco depois, Tiquinho, com um remate à figura do guardião do rio-avense quando este estava – embora rodeado de companheiros – fora da baliza.

Mas, como não há regra sem excepção, Marega marcou mesmo: outra vez Herrera na recuperação e outra vez Yacine Brahimi no passe em profundidade – o Rio Ave foi demasiado frágil a controlá-la – para o avançado africano contornar Cássio e empurrar para a baliza deserta.

Os visitantes responderam de livre: João Novais – filho de Abílio, um antigo e exímio marcador de livres – cobra directo e faz a bola passar pouco ao lado do poste esquerdo da baliza defendida pelo regressado Casillas.

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Foto: Eduardo Carvalho

Os portistas iam somando oportunidades e, em mais uma jogada combinativa iniciada por Brahimi, a bola circula com simplicidade até ao cruzamento de Jesús Corona encontrar Soares, mas este volta a falhar incrivelmente: era só encostar!

Ainda antes do intervalo, troca de guarda-redes na turma de Vila do Conde, com Rui Vieira a entrar para o lugar do contundido Cássio. O português comete imediatamente um erro, oferecendo o esférico aos da casa, numa jogada de insistência que culminaria num excelente movimento e remate de Herrera, mas o remate não sai na perfeição ao mexicano.

Sucediam-se as oportunidades: primeiro Brahimi a rematar muito alto; depois Marega a rematar enquadrado, mas o guarda-redes de 26 anos redime-se do erro anterior, esticando a luva e defendendo com a ponta dos dedos; a seguir, Danilo Pereira, a corresponder a um canto de Alex Telles, impondo-se nas alturas, mas o cabeceamento
esbarra no poste; por fim, Tiquinho Soares, isolado por Telles em profundidade, faz praticamente um passe para o “redes”.

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Foto: Eduardo Carvalho

A etapa complementar começa como terminou a primeira: com uma finalização falhada por Soares, após passe de Brahimi, a rasgar a defesa adversária; a seguir, uma perda de tempo de remate de Marega, “colocado” na cara do guarda-redes por um passe longo de… Casillas; e mais uma recuperação de bola a resultar num “bailado” do extremo argelino, com passe atrasado para Tiquinho voltar a rematar à figura do guarda-redes.

Mas a toada do jogo era, nesta fase, menos intensa e os que equiparam de amarelo e vermelho aproveitaram para crescer no jogo!

Num lance iniciado por Rúben Ribeiro, por quem passava todo o futebol ofensivo da equipa – há rumores do interesse do F. C. Porto na sua contratação -, o 10 deixa em Geraldes, que “pica” para Yuri Ribeiro falhar, na cara do guardião espanhol dos azuis e brancos.

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Foto: Eduardo Carvalho

Mais tarde, Pelé aproveita o espaço concedido no meio-campo defensivo dos visitados para rematar cruzado e junto ao poste esquerdo da baliza; do lado contrário, é Marega a encontrar espaço em zona frontal, mas a mira não estava mesmo afinada e o remate sai ligeiramente ao lado.

Possivelmente na melhor jogada do Rio Ave em todo o encontro, Rúben Ribeiro combina com Pelé, que solta em Geraldes, com o médio cedido pelo Sporting a entregar, de trivela, a Nuno Santos: este flecte para o meio e remata forte, para defesa atenta do “porteiro” portista.

Os anfitriões continuam à procura do golo da tranquilidade e, numa incursão pela esquerda, a bola sobra para André André, que faz um passe em habilidade – balão – para o estoiro do lateral-esquerdo Telles.

O tento chegaria mesmo, de grande penalidade, convertida pelo camaronês Aboubakar – que, entretanto, entrou.

Era o ponto final numa grande batalha táctica “sumarenta”, num jogo que presenteou os adeptos do futebol com alguns lampejos de elevado recorte técnico!

O F. C. Porto termina o ano civil mantendo-se em prova em todas as competições disputadas, ao passo que o seu adversário regressa a Vila do Conde de cabeça verdadeiramente erguida por se manter fiel aos seus princípios de jogo, os mesmos que o têm levado ao estatuto de uma das equipas que melhor futebol pratica em Portugal.

Este autor não escreve segundo o novo acordo ortográfico.

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