EM TELA CONVIDA: Persépolis

Imagem: Ana Regina Ramos e Joana Aleixo/Canva

Recreando cinematograficamente a obra literária de Marjane Satrapi, “Persépolis” comporta uma autodescoberta e um regresso apelativo à infância da própria autora. Retrata uma realidade delineada pelos ventos da mudança e pela instabilidade vivida, à época, no Irão. Desde a inconstância política, a opressão da população e o mercenarismo fundamentalista, todas estas são realidades tão bem descritas através das vivências e dos olhos da autora.

Seguindo a linha de banda desenhada do livro, retrata-nos, “Persépolis”, com subtis toques de comédia e sarcasmo, a infância rebelde, revoltada e irreverente de Marjane. É esta uma autobiografia narrada através de simples ilustrações monocromáticas, altamente moldada e prejudicada pela Revolução no país, marcada pelos recorrentes abusos por parte das autoridades. Remonta a 1979, um período de transição política no Irão, momento este em que Marjane tinha apenas 10 anos, começando a dar os primeiros passos na pré-adolescência – momento este, por si só, bastante complicado para qualquer um -.

Apesar de todos estes traços retorcidos, há, ao longo do filme, um constante apelo e preocupação com a normalidade juvenil, desde os amores, as amizades, a força da família, a revolta associada à idade – intensificada nestes ambientes -, as pressões e a necessidade de enquadramento social.

Apesar de toda a beleza cinematográfica, a mensagem que a autora passa é muito simples e direta, isto é, como os regimes autoritários deformam e prejudicam o normal e expectável desenvolvimento dos jovens e crianças; como se tornam rotina os constantes “desaparecimentos” de amigos, jovens e familiares que se opunham ao regime; como os bombardeamentos começam a fazer parte do quotidiano, a gerar trauma e dor. Apela ainda a uma necessidade de consciencialização e sensibilização para a importância dos pequenos detalhes não valorizados e dados como adquiridos, desde a simples forma de nos vestirmos às músicas e os filmes que vemos, liberdades básicas estas criminalizadas por muitos regimes.

“Persépolis” é um verdadeiro triunfo, realçando, de forma simplista e quase infantil, um apelo gritante e sufocante por liberdade, combinando, de uma forma exclusiva, a ternura com a História e o trauma. Torna-se, assim, o filme, de natureza obrigatória, dada a sua implícita mensagem de cariz universal.

Seja o primeiro a comentar

Deixe uma resposta