
Muitos foram os temas que, desde o último artigo, nos ocuparam a mente. Da anestesia permanente da pandemia, à incrédula prescrição de José Sócrates, aos assédios sexuais que, valentemente, se tornaram públicos, enfim, uma miríade de temas que causaram estupefação à generalidade das pessoas. Mas, se todos estes temas seriam interessantes para aqui debater, o problema do interior de Portugal – não menos importante – é, desde há uns anos, motivo de conversa permanente, embora muitas vezes esquecido e esbatido na nossa memória.
No início do mês de Junho participei numa conferência cujo mote principal era debater o futuro e o presente do Interior de Portugal e quando se debatiam os problemas e as soluções para esta parte do nosso território, apercebi-me de que apesar de este ser um tema que, na nossa bolha, está sempre presente, para a maioria do país passa ao lado.
Todos conhecemos, bem ou menos bem, esta realidade. O interior de Portugal enfrenta os adamastores da desertificação e do envelhecimento. Atendendo à falta de oportunidades, a população, principalmente a mancha jovem, vê-se obrigada a ocupar o litoral. Este fenómeno leva a que os grandes centros estejam sobrecarregados, o que consequentemente leva a uma diminuição da qualidade de vida de quem neles habita e o interior, cada vez mais, vai desaparecendo.
Esta assimetria, não fossem as ambições dos decisores políticos, nunca teria chegado ao ponto em que hoje a encontramos, pois, na verdade, se pensamos que o problema é novo, enganamo-nos redondamente. Este é o resultado de anos e anos de inação e desleixo.
Poderíamos, então, recorrer ao velho brocado e dizer “da água arramada, aproveita-se a que se pode”. Mas aqui, esbarramos contra a realidade: não estamos a fazer o que podemos para reverter esta situação. Muitas foram as oportunidades perdidas e a verdade é que o interior fica sempre “para depois”, para quando dá jeito e não quando precisa.
Estamos em ano de autárquicas e se, por um lado, se atabalhoam obras para o final de mandato, se quer mostrar trabalho e se tenta cativar a população com papas e bolos, também deve ser nestes momentos que o interior deve ser, por todos, repensado. E o interior só será repensado quando se destruírem mitos, quando o preconceito for esbatido e quando os jovens começarem a ter um papel ativo na sua restruturação. Envolver os jovens – futuros decisores – na política local, dar-lhes voz, é contribuir para que o interior, mergulhado em várias crises, ganhe novos desígnios para se poder relançar e voltar ao centro das preocupações do país, distraído por querelas intestinas e jogos de poder.
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