Após o “tombo” do gigante espanhol na eliminatória anterior, Portugal estava avisado para a forma de jogar de Marrocos: bloco defensivo muito compacto, fechando (quase) todas as linhas de passe com um jogo de pares ultra-concentrado e muita qualidade a sair da pressão, preferencialmente em contra-ataques criteriosos, mas também competentes quando em ofensiva posicional.
Foi assim que En-Nesyri, um dos mais completos 9 vocacionados para este tipo de ideia de jogo, aproveitou um erro de todos os elementos mais defensivos portugueses (Rúben Neves “macio” na protecção à linha recuada, Dalot a não encurtar o espaço para o cruzamento, Pepe mal posicionado, Raphaël Guerreiro a fugir ao duelo aéreo, má comunicação de Rúben Dias com Diogo Costa e este último a ser batido pela antecipação de cabeça do ponta-de-lança do Sevilha) para fazer o golo solitário da partida.
Desde o apito inicial e até ao final da primeira parte, apesar da natural iniciativa de jogo e alguns fogachos de Bruno Fernandes e João Félix, com remates perigosos fora da área, a turma de Fernando Santos estava a cair na “armadilha” dos “Leões do Atlas”. O recuo de Rúben Neves para junto dos centrais para iniciar a construção, aliado à falta de movimentação entre linhas, obrigou que Neves e Bruno Fernandes (único dos elementos mais ofensivo que baixava para tentar pegar no jogo) tivessem de procurar o passe longo para os flancos, na tentativa de quebrar linhas, mas os africanos ajustavam colocando o receptor em situação de um para dois.
Pela capacidade que exibiam nos vários momentos do jogo, diria que o resultado ao intervalo era justo.
Pouco após o reatamento, o seleccionador nacional rapidamente operou substituições: praticamente todas as entradas fizeram sentido (a de Rafael Leão, sobretudo, pecou por tardia), mas o mesmo não aconteceu com algumas das saídas, com Otávio melhor no jogo do que o irreconhecível Bernardo Silva, por exemplo, que se limitou a circular bola com pouca verticalidade. Cristiano Ronaldo voltou a entrar bem em jogo, sobretudo quando fez dupla com Gonçalo Ramos (André Silva poderia ser uma boa opção para lançar, ele que no passado recente se mostrou o melhor parceiro na frente de ataque para CR7).
Se ao intervalo, pela competência de Marrocos nos vários momentos do jogo, o resultado se ajustava, na etapa complementar justificava-se o prolongamento, uma vez que os marroquinos baixaram o nível (apenas se mantendo solidários a defender) e a equipa das quinas, embora sem a criatividade e intensidade ideais, cresceu e acumulou oportunidades de golo.
Pensando de uma forma meramente resultadista (chegada aos quartos-de-final do Mundial) ou até relativamente à gestão do “dossiê Ronaldo”, o balanço do trabalho Fernando Santos nesta competição é globalmente positivo. Ainda assim, pese a evolução de pendor ofensivo da equipa, parece-me que seria ideal uma mudança de ciclo no comando técnico da Selecção Nacional, sendo necessárias novas ideias que favoreçam as características dos nossos (melhores) jogadores…
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Este autor não escreve segundo o novo acordo ortográfico.