Hoje não vos trago nenhuma estreia cinematográfica nem nenhum sucesso de bilheteira. Contudo, trago algo mais necessário, o relembrar de Abril, o celebrar da liberdade e o apelo aos nossos (bem jovens e frágeis) 50 anos de democracia.
De entre todos os clássicos que procurem, pela arte do cinema, recriar Abril, destaco os “Capitães de Abril”, pela simplicidade e acessibilidade como retrata um dos mais bonitos momento da nossa História. Não escolho necessariamente pela boa representação do elenco nem pela estética ou imagem, mas por tudo o que estas pessoas representaram, e representam, na contemporaneidade portuguesa. Pelo retrato que o mesmo nos permite ter do que foi o 25 de Abril.
Todos os momentos – desde o início da noite de 24 de abril, com a passagem das senhas na Rádio até ao derrube de Marcello Caetano no Largo do Carmo, no fim do dia 25 de abril – são-nos humildemente detalhados e acompanhados pelo envolvente cantarolar de “Grândola, Vila Morena”. Vemos como Salgueiro Maia encaminhou as forças armadas até Lisboa, como este orientou os militares e procurou derrubar o regime autoritário do Estado Novo que vigorava em Portugal. Citando a sua emblemática frase: “como todos sabem, há diversas modalidades de Estado. Os estados socialistas, os estados capitalistas e o estado a que chegamos. Ora, nessa noite solene, vamos acabar com o estado a que chegamos!”.
O filme, sob a direção de Maria de Medeiros, realça a natureza poética e lírica do que foi a Revolução dos Cravos, sendo constante, ao longo do mesmo, a premente preocupação pela salvaguarda da sociedade civil e pela ausência de vítimas. Em vez de sangue, a paisagem pintou-se de cravos vermelhos, trazidos por Celeste Caeiro.
É importante, hoje e mais do que nunca, recordarmos tudo o que percorremos até aqui chegar e qual o caminho que devemos continuar a trilhar.
Estrelas: 7 em 10