Apesar de a grande gala dos Óscares já se ter realizado no início do mês (temos disponível no YouTube e no Spotify o nosso último episódio do podcast “Contra Tela” onde comentamos os grandes prémios) o conteúdo de hoje foi nomeado para um prémio apesar de não ter ganho.
“Anuja” é uma curta-metragem que se encontra disponível na Netflix e é a prova que apenas alguns minutos nos podem impactar. Este conteúdo cinematográfico representa, de uma forma muito crua e simples, aquilo que é o quotidiano de várias crianças carenciadas, na Índia.
As personagens principais (irmãs) trabalham mais de 10 horas por dia numa fábrica clandestina para ter algum dinheiro para subsistir. A dada altura, a irmã mais nova tem que escolher entre continuar a trabalhar ou estudar. Vista como uma menina inteligente, o seu professor insiste para que a menina escolha os estudos e se submeta a um exame importante, enquanto, a irmã mais velha, que aparentemente já não se encontra na idade de estudar, pretende casar para melhorar a sua vida e a da irmã. Contudo, mesmo para casar tem de ter algum dinheiro, assim, vemos as duas irmãs a vender alguns sacos feitos de restos de tecido que encontravam na fábrica onde trabalhavam.
Em “Anuja”, existem duas partes que me marcaram especialmente. A primeira, quando vemos as meninas vender os sacos e, para festejar, a primeira coisa que fazem é comprar um balde de pipocas e ir ao cinema. Aqui vemos o quão importante é a cultura, ao ponto de ser o primeiro pensamento das meninas que praticamente não tinham o que comer. A segunda, tem a ver com o desfecho desta curta-metragem onde vemos os alunos da escola representada a ver o resultado do conteúdo cinematográfico. Além disso, é nesta altura que percebemos que uma das personagens principais (a irmã mais nova) nunca representou, não é atriz, mas sim uma menina que vive aquela realidade todos os dias.
“Anuja” faz-nos refletir. Este é sem dúvida um trabalho que mereceu a nomeação de “Melhor Curta-Metragem”. De uma forma simples é representada uma realidade de um público do qual raramente se fala, onde são abordados temas como as desigualdades sociais, o desequilíbrio entre os direitos do homem e da mulher, exploração infantil, a pobreza e o fraco acesso à educação. Que o cinema nos ajude a recordar, sempre, que a nossa realidade não é a do outro. Que o cinema nos ajude a recordar que no mundo existem cenários mais cruéis do que aqueles que imaginamos e que não nos podemos esquecer deles, pois esquecer estas crianças, seria esquecermo-nos de nós próprios.
Podem ver aqui o episódio do “Contra Tela” sobre os Óscares.
Estrelas: 10/10
Imagem: DR/ Jornal Referência