Ir à vindima ao Douro

Foto: Vanessa Pereira

É manhã, o sol ainda mal nasceu, mas cedo se começa o dia. Um dia que se prevê árduo, como todos os outros para quem faz da agricultura vida. É também altura de vindimas, o culminar de um ano de trabalho.

Pouco passa das sete da manhã. Balde, tesoura, chapéu, luvas e, claro está, a merenda, onde não falta o chouriço, o pão caseiro e um bom vinho para motivar.

Ir à vindima é sinónimo de muito trabalho, mas é também sinónimo de alegria. À medida que se cortam as uvas, fala-se de tudo um pouco. Há sempre alguém que está atualizado das principais notícias, promove-se, então, um debate no meio dos vinhedos, cada um tem uma palavra a dizer sobre qualquer assunto.

Critica-se o que vai mal no país, fala-se de saúde, política, arranjam-se soluções para quase todos os problemas, a coisa até vai bem e, a dada altura, uma voz se levanta e diz uma frase que é quase como música para ouvidos de quem trabalha: “Vamos lá à bucha”.

A bucha é a palavra mais rápida de dizer “tenho fome, vamos comer”. Trata-se de um pequeno almoço, que de pequeno não tem nada, na verdade. Às 10 horas da manhã todos param, procuram uma boa sombra, sentam-se nas pedras mais confortáveis – sim, porque existem pedras mesmo confortáveis – para servir de banco e recarregam-se as energias.

Baterias carregadas, de volta ao valado, colher o que ainda lá ficou. E a festa continua. Silêncio é coisa que não existe. As conversas cruzam-se… depois, há sempre um artista que aproveita o momento para contar as anedotas mais engraçadas de que se lembra.

Passaram quase três horas desde que se comeu a primeira “bucha”, é altura do almoço. Agora, a pausa é mais longa, o calor já começa a apertar e não é fácil. As águas geladas já não estão tão frias assim, mas que importa? Interessa é repor o líquido.

Alguém se encosta numa árvore e quase adormece. É, então, que a mesma voz imponente decide “vamos lá, pessoal”.

Desta vez, e até por volta das 16 horas, não há pausa. A maior parte anda com as garrafinhas de água atrás, ou do vinho… Caso contrário, elege-se sempre uma pessoa que passa mais tempo a ir à ponta buscar a bebida do que propriamente a cortar as uvas.

Ninguém reclama. Afinal, estão todos bem, já cortaram quase seis pipas de uvas e o dia está a terminar, é a melhor parte, voltar a casa, tomar um banho, descansar que bem merecem, porque amanhã é outro dia… e as vindimas estão quase a terminar.

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