OPINIÃO: Retrato dos novos artistas

Os artistas continuam por aí, algures nos bares, por nenhures, na desinência da noite, procurando mais um verso, ou mais duas páginas de um romance novo que, é justamente autobiográfico — depois de tudo isto, alcançam um patamar em que estão capacitados de queimar todo o esforço virgem, “as primeiras cem mil palavras são lixo, a partir daí nasce o artista, assim que as sacrificares”, disseram-me outrora.

Assim que um escritor despojar todas as boas ideias que tem, todas as palavras mais belas, todos os adjetivos, tudo… a partir daí nasce a genuinidade — como se daí brotasse o verdadeiro artista, despido, nu face aos olhares carnívoros, sedentos e esfomeados de novas artes, de novas histórias.

“Andamos aqui emprestados” praguejou o meu pai ao telemóvel acerca das dificuldades que a vida lhe presenteou, ironicamente. E somos um empréstimo a este mundo, somente a nossa arte é dada, oferecida — o resto é perene.

Não basta bater numa árvore e esperar que caiam maçãs suculentas, repletas de páginas ardentes e inspiradas pelo correr da pena ao passo de James Joyce ou Ernest Hemingway, ou António Lobo Antunes… a arte desabrocha na medida da existência, e por muito que se queira escrever ou produzir, não logramos a inventar para além das sensações a que somos expostos.

O apelo alheio ao nosso trabalho é como fosse a nossa moeda de troca (ou até um combustível), contudo, vivemos numa era de tanta cultura, tantos “intelectuais internautas”, especialistas nas mais diversas artes, que seria de se esperar um tempo próspero aos recém-chegados artistas… no entanto, são os velhos poetas mortos, os escritores encarcerados em tumbas, e por aí adiante, que fazem jus à cultura.

Somente em pequenos círculos pessoais e aconchegadores é que os “miúdos” vão singrando, na tradição do “passa a palavra”. É difícil ser-se artista nos dias de hoje, contudo, é uma luta gratificante sabendo que algures, a palavra se espalhou.

Este autor não escreve segundo o novo acordo ortográfico.

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