Antes dos frutos está o tempo. E o tempo é algo que demora tempo. Não me posso apressar contra o tempo, que o tempo vence todas as corridas – é dele a pista. De qualquer tempo levo apenas a lembrança. E dentro de cada tempo há vários tempos, tempos até para se discutir tempo.
Toda a génese poética se dá para o tempo, no tempo e com o tempo e ainda assim se lê para além do tempo, como se a eternidade da palavra fosse anterior ao tempo.
E não me posso atrasar, ainda que já vá tarde demais. Os meus companheiros estão mortos e içam velas de prosa corrida à mão de semear na peneira da luz com todo o tempo estagnado – sem morada. Os de cá são mais lentos.
Antes do tempo se dar num enorme momento de sonhos em que tudo se alinha perfeitamente na realização abismal do instante, é preciso a solidão das noites a procurar o trabalho mais afincado. Todos veem a chegada e tão poucos vêm o percurso.
O caminhar por entre pedras esbatidas descalço, sem pele que aguente as brasas minúsculos de poros metamorfoseados em suor, as bolhas e calos de raiva descabida e as lágrimas de desespero – a constante pergunta “quando é que isto tudo acaba?”
E depois acaba, e o tempo passou. Uns logram o tempo e clamam o ardor da sua passagem como uma adaga por entre os olhos, outros cospem na sua escassez e pedem mais, mais, mais tempo que não se teve tempo – e ainda assim todo o tempo passou.
“A luta, a possibilidade de luta, é a garantia contra a derrota” e no constante guerrear o tempo lá se vai enfiando. E do tempo vêm os frutos, a semente e a flor.