
Pitada de Pimenta
Lembrar que somos esquecidos é um ato que nos serve de reflexão e jamais será o de nos menosprezarmos, ao ponto de nos considerarmos menos região que as demais regiões do Interior de Portugal. Todas somos diferentes, a precisar do mesmo: consideração e medidas em prol de um futuro assegurado.
Há conceitos que nos enfeitam a testa e com certeza toda uma panóplia de páginas, atabalhoadamente escritas, com títulos de fachada, medidas de incentivo à fixação sem aproveitamento (e, agora, com a enchente de promessas do seu cumprimento), reformas essenciais por reformar, o consequente abandono da atividade agrícola, a intensificação do despovoamento do Interior e todas as maleitas que acarretamos há demasiado tempo; somos isto – mas somos ainda muito mais!
O tempo urge e as dificuldades de quem no Interior vive são urgentes e bem mais importantes do que qualquer bitaite dirigido em debates televisivos, miseravelmente compostos por meia dúzia de minutos. Em todos os debates realizados para estas eleições legislativas, em nada se abordou a coesão territorial, a desertificação do Interior, a descentralização.
São as promessas que nos fazem ao longo dos anos, que nos tornam pessoas desacreditadas em quem pode mudar a situação. São estas as promessas proferidas, agora, em campanha, e reconhecidas as medidas idílicas em que nos fizeram acreditar e nos fizeram crer que seria possível mudar; e deveriam de ter sido implementadas para combater esta problemática, como tão bem expressas constam no Programa Nacional para a Coesão Territorial.
Somos alvo de estudos e constata-se o óbvio, o dito pelo não feito, sendo a regionalização um termo usado, muitas das vezes pomposo nas palavras mediatizadas, quando, o que realmente faz falta, são medidas concretas e de uma grande força municipal (e não só) capaz de fazer desenvolver estas regiões do Interior de Portugal.
Nos estudos realizados sobre os distritos industriais que tiveram o seu apogeu nos anos 90, deu-se conta que os fatores que permitiam esse desenvolvimento, em contextos à partida desfavoráveis, eram o facto de que esse sucesso não nascera de modo fortuito, ou vindo das autoridades locais; pelo contrário, adveio das dinâmicas de natureza endógena e do tempo longo de desenvolvimento. Além de que esse desenvolvimento se sucedeu, também, aos estímulos ora de natureza técnico-económicos, como também socioculturais.
O nosso desenvolvimento, face aos estudos em ordem de anos, exige uma centralização das entidades territoriais, dos serviços e da recuperação dos meios ferroviários que nos conectarão a outros destinos. A linha do Douro pode ser muito mais do que uma passagem turística, para os que nos vêm, ano após ano, visitar, apreciar e valorizar o tempo parado que reina por aqui. Nós, que somos o reino encantado.
E a tarefa de protagonismo a nós, a vós que fazeis parte da região, será identificar as necessidades e encontrar as respetivas soluções. Esta foi a preocupação presente no projeto Aldeias Sustentáveis e Ativas, entre 2011 e 2013.
Como eu já referi, e tornarei a frisar, se necessário, é o de que há uma grande parte de comunidades rurais isoladas que constituem uma vasta parte da ocupação demográfica do Interior de Portugal. Reforço, nesse sentido, que o Interior Norte tem as suas especificidades, tanto a nível cultural, como socioeconómicas, distintas do Interior Centro, como do Interior Sul. E, portanto, o meio onde vivo, exíguo concelho de São João da Pesqueira, do distrito de Viseu, é apenas um exemplo dos tantos outros existentes que não devemos descorar.
Assim sendo, é necessário entender estas questões, estas especificidades atendentes a cada região demarcada, estando em contacto direto com as aldeias, as pessoas, com quem vive o rural de diversas formas, por forma a reverter a situação de isolamento e de desertificação progressiva. Só assim, poderemos garantir uma maior e melhor qualidade de vida às populações residentes e àquelas que procuram fixar-se vindo de fora.
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