Após a notícia do falecimento do ex-presidente do FC Porto, Jorge Nuno Pinto da Costa, muitas têm sido as imagens, mensagens e recordações partilhadas nas redes sociais, mas nem tudo corresponde à realidade. Um desses exemplos é uma suposta capa do antigo jornal “O Comércio do Porto”.
Esta segunda-feira, 17 de fevereiro, decorreu no Estádio do Dragão, no Porto, uma homenagem a uma das figuras mais importantes da história do clube da Invicta. Na mesma altura, acontecia um sismo de magnitude 4.7 (Richter) com epicentro a cerca de 14 km de Seixal, revelou o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA).
Quem tem andado pelas redes sociais nas últimas horas, com certeza, já viu a imagem de uma alegada capa do jornal “O Comércio”, datada de 30 de julho de 2005, na qual se pode ver uma entrevista que Jorge Nuno Pinto da Costa teria dado, com declarações que geraram surpresa.
“Há quem pense que o país é só Lisboa, mas estão enganados. Para aqueles energúmenos que me desejam a morte, sorrio, mas não esquecerei. No dia em que eu for enterrado, o Porto irá chorar, mas Lisboa irá sentir o abalo, ou não me chamo eu Jorge Nuno Pinto da Costa”, pode ler-se na imagem.
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Contudo, a capa não passa de uma montagem. Esse mesmo dia marca a última edição impressa do referido jornal, fundado em 1854, que tinha como manchete “‘O Comércio do Porto’ suspende publicação a partir de amanhã. Até à próxima”, juntamente com uma fotografia de alguns elementos da redação. Em nenhuma parte da capa é mencionada uma entrevista ao líder dos dragões, conforme consulta na Hemeroteca Digital.
Além disso, nesse ano, Jorge Nuno Pinto da Costa completava 23 anos como presidente do FC Porto e não 20, conforme é possível ler na imagem.
Até onde foi possível pesquisar ao Jornal Referência, não foram encontradas tais declarações exatas em alguma entrevista pública dada. Contudo, o presidente honorário dos dragões foi, durantes estes dias, destacado por muitos como uma personalidade que levou longe o nome da cidade do Porto e até mesmo da Região Norte, bem como defensor das suas raízes.
Entre frases conhecidas sobre este tema, vários jornais nacionais destacaram algumas: “Lisboa não pode continuar a colonizar o resto do país. O desejo deles é que o FC Porto desça de divisão”, no discurso de tomada de posse como 32.º presidente do FC Porto a 23 de abril de 1982.
Em 1995, proferiu: “Toda a gente sabe que isso de Lisboa a arder não é desejo de ninguém. Há, em Lisboa, muitas coisas bonitas, a delegação do FC Porto, os Jerónimos, mas persistem mentalidades que ainda pensam que Portugal é a capital e o resto é paisagem. Essa mentalidade é que, no sentido figurado, gostaríamos de ver arder”.
Anos mais tarde, em 2003, declarou à revista “Espiral do Tempo”: “Lisboa, como cidade, gosto muito. Gosto muito do Bairro Alto, acho lindíssimo, gosto muito de ir aos fados a Lisboa. O que não gosto é dos imigrantes em Lisboa que acham que Lisboa é que é o país e o resto não conta (…) O que sinto em relação ao FC Porto é que é uma espécie de último resistente ao centralismo. Todas as grandes instituições do Porto capitularam. O que ficou? O FC Porto”.
“Quero ter uma vida normal e que os meus inimigos me continuem a atacar e a difamar. É sinal de que tenho saúde e vou poder continuar a cumprir a minha obrigação”, afirmou Jorge Nuno Pinto da Costa ao Jornal de Notícias, a 1 de janeiro de 2019.
“Deixarei de ser presidente, mas portista só quando morrer, e não sei se é possível continuar lá em cima a ter clube”, garantiu no discurso de entrega da Taça de Portugal ao museu do FC Porto, um dia antes de cessar funções na SAD, a 27 de maio de 2024.
No passado sábado, Jorge Nuno Pinto da Costa faleceu aos 87 anos, após 71 dos quais como associado no clube, mais de seis décadas nos órgãos sociais e 42 anos na liderança do FC Porto. André Villas-Boas assumiu a presidência do clube a 7 de maio de 2024.
As notícias falsas fazem uso das fortes emoções
Há dias, o Jornal Referência divulgou algumas dicas para que seja possível identificar notícias falsas, que cada vez mais são fáceis de divulgar no mundo da internet.
Quando algo que lemos online desperta uma forte emoção, é sempre bom confirmar a informação noutro local, seja num meio de comunicação, num site de verificação de factos ou noutro que avalie a veracidade de imagens.
Neste caso, num momento em que o sentimento de perda de uma personalidade do clube, da cidade e mesmo do país assolou milhares, a divulgação desta “coincidência” torna-se oportuna e é importante ir mais além e chegar até aos factos.
Foto: Facebook FC Porto
