As pessoas tendem a esquecer-se de respirar. Vivem constantemente com as botas apertadas e anseiam a noite para se enfiar num pijama e dormir, sistematicamente. O despertador faz a parte deste sistema e recolhe-os das entranhas da noite para mais um dia de trabalho, ócio, cimento, teclas, escritórios cinzentos, académicos coloridos, ou o que quer que seja. Por entre tanto método há pouco oxigénio, os detalhes são esquecidos, e os pequenos prazeres postos de parte.
Há dias em que deitar mais tarde trinta minutos, ou duas horas, não é assim tão grave, afinal há que respirar – beber um copo de whisky, fumar dois cigarros cirúrgicos, para recolocar a moral no sítio certo. De outro modo, o sistema acabará por derrotar os melhores de nós pelo cansaço, propagando um ódio de estimação interior e vago.
Reveja-se um velho filme, ou velhas estrofes empoeiradas nas prateleiras. Um vinil a trinta e três rotações por minuto, “Fingerprint File” de 1974, com os pés descalços pela alcatifa e os paus de pinheiro, incinerados violentamente aquecem a divisão. Naquele instante tudo o resto estagna, só existe a voz do Mick, as cordas do Keith, e a noite, a dançar por entre o lume, labaredas.
Respira-se através de um single malte, ou irlandês, ou tabaco cubano, ou vinis, ou mulheres com nomes que descem da memória e se perdem num vortex de emoções… Em qualquer idade há uma carência de oxigénio – respire-se!
Este autor não escreve segundo o novo acordo ortográfico.