OPINIÃO: Qual vida?

Na casa dos vinte a vida é praticamente um mar de rosas. Sou novo mas entendo o bem que é ter uma autonomia própria de poder deslocar-me para onde quiser, com quem quiser. Isolar-me se sentir que o deva fazer. Poder ir até à casa de banho sozinho, conseguir deslocar-me até ao supermercado e comprar uma caixa de donuts de chocolate para um pequeno almoço diferente, ou se me apetecer também me aventuro moer os grãos de café, comprar uns filtros, ferver água e fazer um café para mim.

Quão bom é tudo isto? Para mim é sinónimo de uma banalidade porque nunca vivi outra realidade que não esta. Mas é mais que uma simples banalidade, é autonomia. De vez a vez, quando adoecemos com uma simples gripe, é que percebemos o quão bom é não ter o constante pingo do nariz.

Uma coisa posso garantir, a realidade que vivemos não é exclusivamente a realidade do mundo. Há uma realidade individual para cada pessoa. Uma perspetiva, um tamanho de sapatos diferente e um modo de os atar distinto.

Quando me dizem “a vida é sagrada” não posso deixar de pensar “qual vida?” porque as pessoas dentro de uma realidade onde não podem ser quem foram durante quarenta, cinquenta, sessenta ou mais anos, estarão elas “dentro da sua própria vida”?

Numa vida biológica é certo, porque para isso bastará que o coração continue a bombear sangue, mas na “sua vida”, naquela vida em que lhes foi atribuído um nome próprio, determinadas caraterísticas, um certo guarda-fatos, essa vida que todos nós temos individualmente… continuará ela a ser vivida dentro de uma cama de hospital sem possibilidade de recuperação e quando o último rasgo dessa “velha vida” apenas clama para morrer?

Cada um deveria ter a decisão de morrer e quando morrer, se assim o achar. A eutanásia não é um ato de findar a vida a qualquer pessoa em cuidados paliativos, mas sim uma morte digna daqueles que não se consideram mais dentro da vida e que ainda não estão fora dela, portanto precisam de ajuda para sair.

Este autor não escreve segundo o novo acordo ortográfico.

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