É difícil ser-se artista. Não o digo por me considerar um, mas pela tentativa constante de escrever artisticamente. Desde os meus doze anos que tento escrever, escrever, escrever. Repito escrever porque todas as vezes é diferente.
É uma batalha e tanto até chegar ao traço original, nesta caso, à voz original. Depois, é outra luta até que alguém o leia. A luta continua e afinamos até que alguns comecem a gostar. Prosseguimos, uns tantos gostam, mas os “maiores” ainda não nos conhecem. Depois, a meio do campo de batalha, percebemos que os “grandes” até estão atentos, mas não o suficiente para denotar como é que manejamos uma espada.
Mas a luta continua. E, para mim, continuará sempre enquanto houver palavras e histórias a serem redigidas. A gestão do tempo é o mais complicado. A certa altura sinto que tudo o que faço resulta num redondo nada.
Há a velha mania da ambição descabida – quero o mundo e quero-o agora.
De repente começamos a deixar de aproveitar a vida em prol das preocupações profissionais. Deixamos de escutar as vozes, de entender a sociedade como uma constante roldana, de ser “quentes” como ser humano. É fácil ser frio e fecharmo-nos numa esfera privada e individual – num castelo de marfim cheio de adjetivos e metáforas.
Então escapo-me para a serra. Uma serra metafórica com novos ares, mais puros e mais humanos, onde se lavre a terra e se cultive a pessoa nos mais ínfimos detalhes – cada traço é um traço da falibilidade do ser humano.
Dentro de algum tempo compreendo que somos feitos da mesma massa e que “os grandes” têm os mesmo ossos e carne que eu – não são feitos da matéria dos deuses. Então repouso um pouco em mim, através da exterioridade social.
Quiçá no meio disto tudo não me surja um poema – ou trinta.
Este autor não escreve segundo o novo acordo ortográfico.